“Os brasileiros hoje são estrangeiros na maior biodiversidade do planeta”, diz o botânico Ricardo Cardim, no Provoca
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Nesta terça-feira (1/4), Marcelo Tas conversa, no Provoca, com o paisagista e botânico Ricardo Cardim. No bate-papo, ele defende uma graduação em paisagismo no Brasil; explica a importância das plantas nativas; sugere a criação de um museu da Mata Atlântica e muito mais. Vai ao ar na TV Cultura, às 22h.
Como você descreve o paisagista no Brasil? Um decorador de quintais?, pergunta Tas. “Eu hoje acredito que seja uma das profissões de maior responsabilidade que existe. Por quê? No Brasil, de cada 10 brasileiros, nove moram em cidades. Quem decide pelo verde que vai nas cidades? É, em grande parte, o paisagista, seja na área pública ou privada (...) uma das minhas lutas é que a gente precisa ter uma graduação de paisagismo no Brasil, assim como a gente tem a odontologia, que era parte da medicina, de repente vira uma graduação por si só, pela importância dela”, afirma o botânico.
Cardim explica os motivos de fazer paisagismo com plantas nativas. “ Quando eu tenho plantas nativas, eu tenho todo um mecanismo de fauna e flora funcionando. Existem plantas que dependem de bichos e bichos que dependem de plantas. Por exemplo, a gente tem uma borboleta que só coloca ovo em determinada espécie da Mata Atlântica. Se essa espécie desaparece, ela desaparece junto (...) 75% das plantas dos trópicos dependem dos bichos para dispersar sementes e serem polinizadas”.
Em outro momento da entrevista, o paisagista diz o que representa o excesso de árvores não nativas no Brasil e defende a criação de um museu da Mata Atlântica. “Elas representam nossas escolhas culturais, porque antes de aprender e entender a vegetação nativa, a gente foi destruir e queimá-la para a produção agrícola, para construir nossas cidades (...) os brasileiros hoje são estrangeiros na maior biodiversidade do planeta (...) eu não tenho nada contra as plantas estrangeiras, eu adoro muitas delas, abacate, por exemplo, mas porque eu não posso ter também um cambucá, um cambuci, uma grumixama, uma cereja brasileira, a cabeludinha e tantas outras (...) o país que tem a natureza mais rica do mundo, não tem um museu, sério, uma coleção pública a contar isso para os brasileiros, é uma vergonha”.
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