Além do tapete vermelho: presença no Oscar marca o próximo passo da industria visual brasileira
Em 1999, o país parou para torcer por "Central do Brasil" no Oscar, esperando que o longa estrelado por Fernanda Montenegro e dirigido por Walter Salles colocasse de vez o cinema nacional no radar mundial. Apesar de a estatueta não ter vindo, o impacto foi inegável: o filme marcou uma geração e reafirmou a potência do país na sétima arte.
Exatos 26 anos depois, o Brasil vive hoje uma sensação semelhante. Indicado nas categorias de Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz, graças a atuação esplendorosa de Fernanda Montenegro - filha da finalista há duas décadas -, “Ainda Estou Aqui”, que também é dirigido por Salles, é a bola da vez na representação brasileira no Oscar.
A estatueta veio, grandiosa, esperada por todos. Mas a forma como a indústria nacional capitaliza esse novo momento de enorme evidência pode redefinir os próximos anos do audiovisual brasileiro. O sucesso de "Ainda Estou Aqui" pode ser mais do que um reconhecimento isolado, representando o tão aguardado "boom" para impulsionar a indústria e conteúdos locais.
Há algum tempo, o Brasil já conta com incentivos fiscais disponibilizados pelo governo e investimentos oriundos da iniciativa privada. Porém, nem sempre essas oportunidades são plenamente aproveitadas. O talento dos atores e diretores brasileiros é inquestionável, mas o verdadeiro salto de qualidade depende de fatores por trás das câmeras.
Produções bem-sucedidas exigem uma cadeia produtiva estruturada, e é nisso que precisamos avançar. Uma gestão mais disciplinada, envolvendo desde o planejamento orçamentário, até o entendimento dos editais e leis de incentivo, são elementos fundamentais e que precisam estar mais presentes em nossa indústria.
Um dos fatores que podem acelerar essa evolução é o crescimento dos streamings no país. Grandes players estão expandindo sua presença no mercado brasileiros, mudando paradigmas e criando novas possibilidades para produções locais. A novela "Beleza Fatal", por exemplo, que foi a primeira lançada de forma exclusiva no streaming antes de chegar à TV aberta, é um sinal dessa transformação. O fortalecimento desses novos grandes players no mercado marca a chegada de um novo padrão de distribuição, que, somado à nossa qualidade criativa e interpretativa, deve beneficiar muito a indústria brasileira, permitindo que alcance voos maiores.
É hora de elevar o padrão e subir de vez o sarrafo das produções nacionais. Isso vai muito além de atuações brilhantes ou roteiros criativos: envolve profissionalizar a gestão de recursos, otimizar processos e garantir que o talento em frente às câmeras seja acompanhado por uma estrutura de produção igualmente forte e competitiva.
Com um país de dimensões continentais, paisagens diversificadas e profissionais qualificados, temos tudo para consolidar o Brasil como um player global definitivo na dramaturgia. Mas para que isso aconteça, precisamos agir e estruturar nossa indústria de forma definitiva. Até porque, não podemos esperar mais 25 anos para que Walter Salles e a família Montenegro nos coloquem novamente nos holofotes. O Oscar pode ser uma vitrine, mas o verdadeiro sucesso está no que construiremos depois dele.
* Chico Vargas é Country Coordinator da Zapping, plataforma líder de streaming de TV na América Latina