Foto Gelse Montesso |
Nesta terça-feira (10/9), Marcelo Tas conversa com o filósofo e escritor Vladimir Safatle. No bate-papo, ele fala sobre seu livro Alfabeto das Colisões, a falta de polarização na política brasileira, que a esquerda é a força conservadora atual, e muitos mais. Vai ao ar na TV Cultura, às 22h.
“O que é filosofia prática em modo crônico? Tem a ver com doença?”, pergunta Tas. “A doença é aquilo que mostra que você está desadaptado, desacostumado (...) eu dirijo uma série de livros que a gente publicou agora, um livro de um grupo chamado Coletivo Socialista de Pacientes, e o livro chama SPK - Fazer da Doença Uma Arma. A ideia é mais ou menos a seguinte, em uma sociedade doente, você curar as pessoas, é só se adaptar a um outro tipo de doença. Isso que a gente entende por doença, sintoma, é o que as pessoas têm de mais real (...) é o caminho da produção de alguma coisa singular, que vai fazer com que ela consiga criar a sua singularidade”, explica.
Pensador de esquerda respeitado, Safatle comenta em outro momento da conversa que a esquerda morreu. E Tas pergunta: ‘como a sua turma recebeu essa provocação?’. “Isso não foi uma provocação, eu adoraria não ter falado isso, mas isso é uma descrição analítica de um fato, isso realmente está acontecendo (...) esquerda é defesa de igualdade radical e soberania popular. Igualdade radical significa não existir hierarquias no campo do trabalho, do desejo e da linguagem. Você permite que múltiplas formas de experiência de saber circulem, você não recalca elas; você permite que os corpos e os desejos possam ocupar o espaço público de forma igualitária; as relações têm uma estrutura igualitária (...) no campo do trabalho, você não é mais subjugado, submetido (...) é evidente que esse ponto saiu da pauta de todos os debates da esquerda”, comenta.
Ainda falando sobre política, o filósofo responde à pergunta do internauta sobre o atual contexto de polarização, e se é possível alcançar a harmonia entre diferentes pontos de vista. “Eu não vejo polarização alguma, eu gostaria que ela existisse. Falta polarização exatamente porque o campo da esquerda não se polarizou. A gente é ao contrário, é a figura da eterna negociação. Vamos garantir os direitos anteriores, vamos negociar com todas as instituições, vamos criar uma pluralidade que só nos paralisa (...) a esquerda é a força conservadora atual. Eu sou a favor da polarização, eu acho que tem pouco, falta polarização”, afirma.