No CNN Talks: Caminhos para o Crescimento, Roberto Campos Neto fala pela primeira vez sobre seu sucessor na presidência do Banco Central e o que esperar do cenário econômico a curto e médio prazo
Roberto Campos Neto (à esquerda) é entrevistado no palco por Márcio Gomes na edição do CNN Talks - Caminhos Para o Crescimento. Foto: Agência Atacama/CNN Brasil
Um dia após o governo indicar o economista Gabriel Galípolo para presidir o Banco Central pelos próximos quatro anos, o atual ocupante do posto, Roberto Campos Neto, falou pela primeira vez sobre o que esperar da próxima gestão da instituição, ao abrir o CNN Talks – Caminhos Para o Crescimento, realizado nesta quinta-feira (29), em São Paulo.
Questionado pelo âncora Márcio Gomes se Galípolo sofrerá menos pressão que ele por ser indicado pelo atual governo, Campos Neto disse acreditar que as cobranças não serão menores, pois não há “calmaria” no BC. Ele relembrou ainda que o mandato do presidente do BC tem quatro anos, o que manterá seu sucessor no posto até o próximo governo, seja este o mesmo do atual cenário ou não.
“É importante entender que isso faz parte da história do BC daqui para frente: em alguns casos conviver com um Executivo que não foi o que indicou”, disse. Campos Neto disse que “espera que o seu sucessor não seja julgado pela camisa ou pelos jantares, nem pelo evento de que participou, mas pelas decisões técnicas que tomou”.
“O importante é a gente entender que a institucionalidade está melhorando, a gente precisa é tirar o Banco Central dessa polarização”, afirmou. E concluiu: “Com amadurecimento institucional, o presidente do Banco Central será menos visto e menos falado”.
Campos Neto fez então um balanço de sua gestão, contextualizando os números no Brasil no mundo, e um legado que atribui não a si, mas a toda a sua equipe. E sublinhou o avanço da transparência na comunicação da instituição e da digitalização do sistema financeiro, com destaque para a criação e o sucesso do PIX.
O encontro, que ocorreu no Solar Fábio Prado, em São Paulo, resultará em uma série documental na CNN Brasil, “Caminhos para o Crescimento”, que irá ao ar a partir desta segunda-feira, 2 de setembro, no CNN Prime Time, em cinco episódios, abordando todas as questões levantadas neste Talks especial.
Em sua 12ª edição, o CNN Talks – Caminhos para o Crescimento contou ainda com Bernard Appy, secretário extraordinário da Reforma Tributária; Marcos Pinto, secretário de reformas econômicas do Ministério da Fazenda; Vilma da Conceição Pinto, diretora da IFI (Instituição Fiscal Independente) do Senado; Gesner Oliveira, sócio da GO Associados e professor da FGV; Raul Velloso, economista e presidente do Fórum Nacional INAE; Marcos Lisboa, sócio-diretor da Gibraltar Consulting; Eduardo Chedid, CEO do PicPay; Alessandro Bonorino, vice-presidente global de gente, gestão e transformação digital da BRF; e Dennis Herszkowicz, presidente da Totvs.
No painel que discutiu o Brasil pós-reforma, mediado pelo âncora William Waack, o secretário de Reformas Econômicas do Ministério da Fazenda, Marcos Pinto, apontou que o país passa por um momento de “revolução silenciosa” na economia, movida pela agenda da pasta e pela reforma tributária. “O que a gente está ganhando em ter a reforma é muito grande. Temos condições de ganhar muita produtividade. As distorções são muito prejudiciais ao crescimento do Brasil. A nossa produtividade está estacionada desde a década de 90, desde o Plano Real”, avaliou Pinto.
“Tem que ter uma transição, a gente tem um sistema cheio de distorções e não se muda isso do dia para a noite”, apontou Bernard Appy. “Não acho que está demorando, e ela tem um impacto muito positivo sobre o crescimento, um ponto muito importante dentro da reforma tributária”, afirmou.
Já o professor Gesner Oliveira avalia que os efeitos da reforma sobre crescimento, produtividade e competitividade como um todo venha num prazo de 5 a 10 anos. Oliveira apresentou dados de um estudo inédito da GO Associados que pede atenção à calibragem da regulamentação da reforma.
Ao lembrar que na proposta original as carnes ficavam na cesta básica estendida, com desconto de 60% no imposto, e que inscritos no CadÚnico que ganhassem até meio salário mínimo per capita teriam direito ao chamado cashback de tributos, citou que cerca de 70 milhões de brasileiros que ganham até R$ 1.550 não estariam elegíveis ao cashback e pagariam mais caro pela carne.
“70 milhões de pessoas ficam desprotegidas de um dos maiores impactos do que podemos chamar de ‘inflação dos pobres’”, explicou Oliveira.
No segundo painel da noite, sob mediação do âncora Márcio Gomes, Eduardo Chedid, Dennis Herszkowicz e Alessandro Bonorino abordaram a “Inovação para transformação: motor para inovação”.
“A gente abraçou o Pix e conseguiu traduzir a nossa expertise. Esse tipo de inovação está no nosso DNA”, disse Chedid. O CEO do PicPay destacou que o uso de inteligência artificial contribuiu para a otimização de ferramentas que dificultam golpes e a ação de criminosos na realização de transações bancárias.
Para Dennis Herszkowicz, presidente da TOTVS, a Inteligência Artificial é uma grande ajuda e não há perspectiva de que ela tome o lugar de funcionários.
“O que a IA faz é tornar as pessoas mais capacitadas. Com essa quantidade de informações e fluidez cada vez maior nos mercados, para conseguir ter um entendimento rápido e preciso, o uso da análise e identificação pela IA pode trazer uma vantagem competitiva muito grande”, exemplificou o presidente da Totvs.
Já Bonorino destacou o uso até mesmo de veterinário virtual e aplicativo para treinamento de funcionários que possibilitam a otimização do processo produtivo.
No último painel da noite, sobre “O Desafio do Equilíbrio das Contas públicas”, Vilma da Conceição Pinto alertou que “os desafios são grandes, principalmente quando compara o desempenho deste ano e o do ano que vem, uma vez que boa parte das receitas são temporárias”. Para a diretora da Instituição Fiscal Independente (IFI) do Senado, “o governo está fazendo um esforço para alcançar a meta este ano, mas no ano que vem vai ter que de novo elaborar novas medidas de ganho de receita”.
Para o economista e presidente no Fórum Nacional INAE, Raul Velloso, o desafio é claro: a Previdência Social. “Se olharmos um período de mais de 30 anos, nós vamos verificar que estamos gastando absurdamente com previdência, e caminhamos para zerar o investimento público em infraestrutura”, analisou.
A edição completa do CNN Talks – Caminhos para o Crescimento está disponível no canal de Economia da CNN Brasil pelo YouTube. Esta foi a 12ª edição do CNN Talks, unidade de negócios da CNN Brasil que tem se notabilizado ao promover o encontro e a troca de experiências entre líderes da iniciativa privada, especialistas e representantes do poder público para debater questões cruciais ao desenvolvimento do país.