O programa Trilha de Letras recebe a escritora franco-ruandesa Scholastique Mukasonga para uma entrevista exclusiva com a apresentadora Eliana Alves Cruz nesta quarta (17), às 23h. A convidada veio ao país para lançar seu mais recente livro, "Kibogo subiu ao céu" (2024). A autora lê um trecho da obra no bate-papo inédito exibido pela TV Brasil e com uma versão que vai ao ar na Rádio MEC no mesmo dia e horário.
Semanal, o Trilha de Letras pode ser acessado em formato podcast nas plataformas digitais. A atração literária gravada na BiblioMaison também fica disponível no app TV Brasil Play e no canal do YouTube da emissora pública.
No quadro "Dando a Letra", espaço com dicas de livros, o booktuber Patrick Torres recomenda o título "Enterre seus Mortos" (2018), assinado por Ana Paula Maia. A publicação tem uma narrativa forte que estimula a reflexão sobre escassez e descaso com uma história intensa que aborda também a empatia.
Relato emocionante sobre memórias
O Trilha de Letras traça um panorama sobre os trinta anos do massacre em Ruanda, quando cerca de oitocentos mil membros da minoria étnica tútsi foram assassinados pelos hutus, a etnia dominante no país montanhoso da África. "No genocídio impera uma ideologia de extermínio total", afirma a autora que relata a humilhação sofrida por mulheres durante toda a barbárie com famílias inteiras dizimadas.
Sobrevivente da matança, Scholastique Mukasonga teve 37 pessoas da família assassinadas nos cem dias de violência em 1994. Principal voz de Ruanda hoje, a escritora recorda o drama na edição especial do programa Trilha de Letras e conta que a literatura a salvou e a ajudou a reconstruir suas memórias.
"Tive a sorte de lembrar da minha missão, do motivo que fez de mim a sobrevivente de toda uma família aniquilada. No genocídio não há mais corpos, nem sepulturas. Não sobra nada. Existe apenas a minha memória que se torna o túmulo deles", destaca Scholastique Mukasonga na produção da TV Brasil e Rádio MEC.
Radicada na França, a autora escreveu obras que repercutiram muito no Brasil junto ao público e à crítica. Ela redigiu livros selecionados entre os mais vendidos como os títulos "A Mulher de Pés Descalços" (2006) e "Nossa Senhora do Nilo" (2012).
"Fui salva pela língua francesa", afirma a escritora que prossegue o raciocínio. "Não posso esquecer que a primeira carteira de identidade que segurei nas minhas mãos foi em 1980. Até lá não tinha nenhuma identidade. Ruanda não queria nos reconhecer", explica ao concluir o pensamento: "Era apátrida".
Novo romance da escritora franco-ruandesa
Scholastique Mukasonga esteve em abril e maio no Brasil para o lançamento da sua mais nova publicação. O romance "Kibogo subiu ao céu" (2024) aborda temas como colonialismo e violência em quatro histórias associadas cuja trama envolve religiosidade e sincretismo durante o período de colonização belga de Ruanda que forçou a conversão dos cidadãos ao cristianismo.
Entre as outras questões discutidas pela convidada internacional durante a conversa com a apresentadora estão o fato de ser uma das poucas mulheres tutsi sobreviventes, o processo de reconstrução de Ruanda e o ódio semeado ao longo das décadas entre etnias que antes eram vizinhas e falavam a mesma língua.
O retorno ao país natal dez anos após o genocídio foi marcante para a autora que encontrou uma região devastada, sem vida humana, com mato alto. "Não havia mais nada. A minha volta me convenceu que tinha que publicar porque essa história não é só minha. 'Vou juntar meus textos'", recorda sobre o que pensou na época. "Precisamos mobilizar outros guardiões da memória: meus leitores e leitoras", sugere.
Como legado, ela reflete sobre a importância da reconciliação para as próximas gerações. "Aprender a viver juntos novamente. Para nunca mais passar o que passamos. Nossos filhos precisam conhecer a sua história para saberem que a divisão inventada para melhor reinar não era verdadeira", finaliza.
Sobre o programa
O Trilha de Letras busca debater os temas mais atuais discutidos pela sociedade por meio da literatura. A cada edição, o programa recebe um convidado diferente. A atração foi idealizada em 2016 pela jornalista Emília Ferraz, atual diretora da produção que entrou no ar em abril de 2017. Nesta temporada, os episódios foram gravados na BiblioMaison, biblioteca do Consulado da França no Rio de Janeiro.
A TV Brasil já realizou três temporadas do programa e recebeu mais de 200 autores nacionais e estrangeiros. As duas primeiras temporadas foram apresentadas pelo escritor Raphael Montes. A terceira, por Katy Navarro, jornalista da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). A jornalista, escritora e roteirista Eliana Alves Cruz assume a quarta temporada, que também ganha uma versão na Rádio MEC.
A produção exibida pelo canal público às quartas, às 23h, tem janela alternativa na telinha de domingo para segunda, à 0h30. Na programação da Rádio MEC, o conteúdo também é apresentado às quartas, no mesmo horário da TV Brasil, na faixa nobre, às 23h.
Premiada autora Scholastique Mukasonga é atração do Trilha de Letras
Reviewed by Pablo
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julho 16, 2024
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