“Não adianta a gente ficar romantizando a favela e ficar mudando o nome, não é isso que vai mudar o que as pessoas sofrem”, diz Sérgio Vaz no "Provoca"
Foto Beatriz Oliveira |
Na próxima terça-feira (14/5), Marcelo Tas conversa, no Provoca, com Sérgio Vaz, poeta, escritor, agitador cultural, idealizador da Semana de Arte Moderna da Periferia e fundador da Cooperifa. No bate-papo, ele conta sobre a interrupção do Sarau da Cooperifa; comenta como era a periferia há 40 anos e a mudança no comportamento dos jovens hoje; fala de poesia e muito mais. Vai ao ar na TV Cultura, a partir das 22h.
Tas pergunta por que o Sarau da Cooperifa decidiu "dar um breque": “Acho que pós-pandemia muita coisa mudou. E a gente está tentando entender ainda o que é que mudou em nossa comunidade, na cena literária, na cena da periferia (...) estão chegando muitos jovens, com muitas propostas, e esses jovens de hoje são muito mais rápidos, inteligentes, têm muito mais sede do que a minha geração (...) pela quantidade de saraus, slams e batalhas de rimas, isso prova que a juventude se apropriou da palavra. A literatura tá comendo miudinho na mão da molecada (...) a periferia nunca leu tanto como agora, só que talvez não estejam lendo livros que estão nas grandes livrarias (...) uma coisa legal na cena negra e periférica é que a gente começou a partir em busca do nosso leitor, se o nosso povo não lê, então é a prova que ele está pronto para ler”, diz Vaz.
E como ressignificar a favela sem cair em uma romantização ou naturalização da pobreza?, pergunta um internauta. “O Brasil precisa de políticas públicas voltadas para o povo brasileiro, diminuir essa distância social, fazer o dinheiro circular nesse país para que a gente possa ter de volta o que a gente paga de impostos, que é a educação pública de qualidade. A gente não pode mais culpar o pobre pela pobreza, o negro pelo racismo, o professor e professora pela falta de educação (...) não adianta a gente ficar romantizando a favela e ficar mudando o nome, não é isso que vai mudar o que as pessoas sofrem. Eu costumo dizer que só quem gosta da favela é quem não mora nela, porque a favela é um lugar ruim”, afirma.
O que você diria agora para uma criança que está em alguma periferia pensando em poesia?, pergunta Tas. “Estude. Porque dá para ser poeta sendo pintor, sendo motorista de ônibus, sendo diarista, advogado, não precisa largar o estudo para ser poeta (...) nós estamos precisando elevar o nível de conhecimento nas nossas quebradas”, reforça Sérgio.