No Provoca: Daniela Arbex fala da pressão que sofreu ao escrever livro sobre a tragédia no Ninho do Urubu

Foto Beatriz Oliveira

No Provoca, Marcelo Tas recebe a jornalista mineira Daniela Arbex, autora de grandes livros como Holocausto BrasileiroTodo Dia a Mesma NoiteLonge do NinhoCova 312 e outros. Aclamada pelo meio jornalístico e ganhadora dos Prêmios Vladmir Herzog e Jabuti, a escritora fala sobre o processo de escrita de suas obras, as histórias por trás de cada caso e sua família. A entrevista vai ao ar nesta terça-feira (26/3), a partir das 22h, na TV Cultura.

Marcelo Tas questiona a jornalista sobre seu livro Todo Dia a Mesma Noite, que investiga a tragédia da Boate Kiss e, posteriormente, é usado como argumentação no caso. “Foi muito emocionante para mim quando o Ministério Público agrega o livro ao processo, anexa ao processo. [...] Então, assim, é incrível porque [...] eu sou uma contadora de histórias, mas muito mais do que tocar o outro, e a gente quer tocar o outro, a gente quer transformar realidades. A gente quer que o nosso trabalho seja uma referência para mudar uma realidade.” Recentemente, o juiz do caso acolheu o recurso contra anulação de quatro condenações, como citado pela jornalista.

Daniela Arbex fala ainda sobre o Hospital Colônia de Barbacena, retratado na obra Holocausto Brasileiro, e a entrevista que fez com o maquinista que operava a linha de trem que levava os “loucos” para o hospício: “Uma fala dele reflete toda a cultura de uma época higienista, ele diz assim: ‘ah, minha filha, não tinha nada de diferente não, só um vagão escrito ‘vagão para louco’, e ninguém podia ir lá’. Então, é isso né, ele conta essa história com essa naturalização, essa banalização do mal”. Ela diz que, em sua concepção, a intenção do hospital nunca foi de tratar, mas sim excluir os indesejáveis sociais. “Se você pensar que 70% das pessoas encaminhadas pra lá não sofriam de doença mental, eram principalmente negros, pobres, militantes políticos, meninas que haviam perdido a virgindade antes do casamento, todo o tipo de indesejável social era um candidato para ser mandado para o Colônia [...] Ao serem desumanizados diariamente, eles também se comportaram dessa forma, né? Eles perdiam sua humanidade, se comportavam até como bichos.”

Ao falar sobre seu livro Longe do Ninho, em que relata o incêndio no Ninho do Urubu, Centro de Treinamento do Flamengo, Daniela conta: “Eu falo que é uma investigação premonitória quando um técnico fala ‘esse alojamento é inadequado e no caso de uma emergência noturna haverá grandes dificuldades’ e foi exatamente o que aconteceu. Esse alerta foi feito em junho de 2018 e o incêndio aconteceu em fevereiro de 2019, uma tragédia evitável.” Ela fala também sobre a pressão que sofreu durante e depois de sua investigação. “Eu tive momentos bem difíceis, os bastidores desse livro são muito difíceis. [...] Acho que foi a primeira vez que a gente teve um bastidor tão tumultuado, tão difícil... [...] E olha que a gente já lidou com coisas enormes, a gente denunciou a Vale, e a Vale também silenciou. [...] Eu acho que é um poder diferente que se mistura a essa paixão, e as pessoas confundem, achando que isso macula a imagem do time”.

No Provoca: Daniela Arbex fala da pressão que sofreu ao escrever livro sobre a tragédia no Ninho do Urubu No Provoca: Daniela Arbex fala da pressão que sofreu ao escrever livro sobre a tragédia no Ninho do Urubu Reviewed by Pablo on março 22, 2024 Rating: 5
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