Pod Pai Pod Filho: Hexacampeão mundial de skate, Sandro Dias, o ‘Mineirinho’, mostra orgulho por ter ajudado japonesa a ganhar ouro olímpico “Senti a responsabilidade do que eu tinha feito”

(Foto: Rogerio Pallatta/SBT)

Conhecido como ‘Mineirinho’, Sandro Dias, é um dos grandes nomes da história do skate no Brasil e no mundo. O esportista conquistou a todos com o seu talento fazendo manobras sobre o objeto de madeira com quatro rodinhas. Ao longo da sua carreira, foi hexacampeão mundial pela World Cup Skateboarding, tricampeão brasileiro e europeu e ganhou três medalhas de ouro nos X Games. Isso sem falar nos inúmeros recordes, como o de ter feito o aéreo mais alto na halfpipe (rampa em forma de “U”), alcançando 4,20m acima da altura da rampa. Nesta segunda (27), ele é o convidado do Pod Pai Pod Filho, que estará disponível no YouTube do SBT Sports e no próprio canal do “Pod Pai Pod Filho”, a partir das 19h (de Brasília).

Referência mundial do skate, Mineirinho, hoje com 48 anos, não atua mais em todas as competições, mas participa ainda de algumas ou, pelo menos, procura fazer apresentações paralelas.

“Hoje, não participo mais de todas as competições. Só as mais importantes, quando o pessoal da minha geração participa. Quando não tem, na maioria das vezes, vou para fazer uma apresentação paralela ao evento que está acontecendo... Gosto de competir, mas não consigo com a criançada de hoje em dia. Não por nível técnico, mas psicológico de falar: ‘O que estou fazendo aqui com um moleque de 13 anos do meu lado, competindo de igual para igual, e eu com 48?’. Não faz muito sentido na minha cabeça isso”, afirma.

Além das competições, o esportista mantém projetos paralelos para continuar incentivando o skate para a nova geração e, inclusive, conta acampamento de férias radical para crianças, que fica em Vargem, no Interior paulista. Além disso, é diretor esportivo da Confederação Brasileira de Skate e toca vários projetos com a Red Bull, uma de suas patrocinadoras. Um deles, aliás, fez com que ele tivesse participação importante na conquista da medalha de ouro da japonesa Sakura Yosozumi nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

“Antes das Olimpíadas, me levaram para o Japão por 10 dias para ensiná-la a fazer um 540º. Nesses dias, ela não acertou por um detalhezinho psicológico. Algumas semanas depois, porém, ela conseguiu. Me mandaram o vídeo, gravaram ao vivo ela acertando, foi muito legal. Depois, essa manobra foi decisiva para ela ganhar a medalha de ouro nas Olimpíadas. Achei fenomenal ela ter acertado”, ressalta.

“Depois das Olimpíadas, ela foi para os Estados Unidos, quando ainda morava na Califórnia. Ela andava com a medalha para todos os lados para mostrar para as pessoas. Quando chegou em uma pista e me viu, foi até o carro, pegou a medalha e colocou no meu pescoço. Aí que eu senti a responsabilidade do que tinha feito com ela”, completa.

Um orgulho e tanto para quem encontrou uma realidade um tanto quanto diferente no início da carreira. “Quando comecei, em 1985, ninguém conhecia o skate como um esporte. Ganhei um como brinquedo de Natal, era uma moda ganhar. Comecei a frequentar as pistas que tinham próximas a Santo André, onde morava. Na época, quando tinha 10 anos, sofríamos preconceito, éramos taxados de marginal, de drogado... As pessoas não tinham conhecimento. Muitas nem sabiam o que a gente estava fazendo, achavam que estávamos destruindo a cidade”.

“Hoje, é muito diferente. É um esporte olímpico e não há necessidade de sair do Brasil para ser um skatista profissional de ponta. O Brasil é um exemplo no skate. Pela organização da Confederação e das federações estaduais, pelo apoio dado aos atletas, a quantidade de campeonatos que temos... O skate no Brasil ainda não é maior do que nos Estados Unidos, mas lá ele não é o segundo esporte mais praticado, deve ser o sétimo ou oitavo, nem sei. No Brasil, há mais de 15 anos, já é o segundo”, declara.

Durante a conversa, Sandro Dias também explica a origem do seu apelido já que nasceu em Santo André, munícipio de São Paulo. “O Mineirinho veio do meu pai, que nasceu na cidade de Campanha. Quando eu era pequeno, sempre fui muito parecido com ele e tinha um tio meu, já falecido, que chamava meu pai de Mineiro e falava que eu era a xerox dele. Fui participar da minha primeira competição de skate, em 1986, e na hora de colocar o apelido na ficha de inscrição, não tinha um dos meus amigos. Falei: ‘Mãe, o que eu coloco?’ Ela disse: ‘Seu tio te chama de Mineirinho, então coloca Mineirinho’. Aí ficou até hoje”.

Questionado sobre a capacidade de estar atuando em alto nível até hoje, Mineirinho ressalta a importância da disciplina não só para o esportista, mas para todos, independentemente da profissão escolhida.

“A disciplina lá de trás me trouxe até hoje. Faço muitas palestras para crianças, jovens e falo: ‘Galera, você que quer chegar em alguma coisa, qualquer situação da vida, quer ser médico, lixeiro, advogado, skatista, esportista... Tenha disciplina. Se você não tiver e também ter um objetivo e foco, dificilmente vai alcançar. Você até pode ter talento e chegar a um objetivo rápido, mas precisa ver se vai ser duradouro. O meu é duradouro por causa da disciplina”, diz.

“Por que consigo andar de skate em alta performance até hoje? Talvez, por lá atrás, ter pensado na minha disciplina. Não tenho hábito de bebida, droga, nada. Tento me alimentar bem. Não deixo de comer nada, mas sei a quantidade que o meu corpo precisa. Não sinto falta de nada e hoje continuo andando em alta performance. Até eu me impressiono”, finaliza.

O podcast completo com Sandro Dias, o ‘Mineirinho’, estará disponível no YouTube do SBT Sports e no próprio canal do “Pod Pai Pod Filho” a partir das 19h (de Brasília) desta segunda-feira (27).