Tasso Azevedo afirma, no Provoca, que o Brasil está entre os cinco países que mais emitem gases no mundo
Nesta edição, Marcelo Tas conversa com o engenheiro florestal e empreendedor social Tasso Azevedo. No bate-papo, o consultor fala sobre o ponto de ruptura climático, o problema com o aumento de temperatura, a energia elétrica no Brasil e a empresa que lidera, a MapBiomas. O programa vai ao ar nesta terça-feira (19/9), a partir das 22h, na TV Cultura.
O idealizador do Fundo Amazônia diz acreditar ser muito provável que estamos vivendo o ponto de ruptura no sistema climático, que simboliza um limite que, se excedido, leva a grandes mudanças no clima mundial. “É estranho falar isso, porque o ponto de ruptura, você não sabe quando ele acontece. Se você estiver no meio dele, você não sabe se está nele, se já passou dele, só vamos saber quando olharmos para trás. Eu receio que daqui, talvez, 15 ou 20 anos, vamos olhar para trás e dizer 'foi naquele momento, foi ali entre 2023 e 2024 que pode ter acontecido o ponto de ruptura'. Espero que não! Mas existem muitos sinais de que a gente está próximo de um ponto de ruptura nessa questão climática", diz Azevedo.
“Como esse efeito do aquecimento global é acumulativo [...] é como se fosse uma banheira, se você fechar o ralo parcialmente e aumentar a entrada de água na torneira, a água vai continuar subindo, e quando você desligar a torneira, vai demorar um pouco para ela (a água) descer totalmente. Então, está acontecendo isso. Mesmo que parássemos de emitir (gases) agora, ainda teremos alguns anos de aquecimento, até que consigamos ter o efeito final”, explica o ambientalista. Ele cita, ainda, o Painel Internacional Governamental de Mudanças Climáticas (IPCC) ao falar sobre o aumento da temperatura global em cerca de 1.1 e 1.15 graus, em relação ao período pré-industrial. “Neste ano, no máximo em 2024, vamos bater 1.5 (graus) [...] ele subiu muito rápido, e esse aumento de temperatura é aquilo que estamos querendo prevenir com o Acordo de Paris.”
Segundo o fundador do MapBiomas, o Brasil está entre os cinco países que mais emitem gases no mundo, logo atrás da China, Estados Unidos, Índia e Rússia. Tasso também diz que, enquanto esses outros países possuem 75% da emissão derivados da queima de combustíveis fósseis, o Brasil tem sua emissão através do uso da terra e da pecuária. “O Brasil, na área de energia, vai muito bem. Por que o Brasil tem uma matriz de energia elétrica que é mais de 80% renovável, chegando próximo dos 90%, e se pegar a matriz total do Brasil é quase 50% de energia, a média do mundo é de 15%. Então o Brasil vai bem nessa área, mas por que o Brasil é o quinto maior emissor de gás de efeito estufa do planeta? Desmatamento”, completa.
“Os bancos [...] não querem estar envolvidos com desmatamento. Até pouco tempo atrás, os bancos diziam assim 'se tiver uma multa no IBAMA, ou se a área estiver embargada, eu não financio'. Só que, do total desmatado, com indício de legalidade, menos de 5% tinham uma multa, então se só olhar para isso, eles correm o risco de financiar.” O engenheiro florestal explica ainda a importância da empresa que coordena, a MapBiomas: “A gente produz um relatório para cada desmatamento que aconteceu desde janeiro de 2019, e os bancos entram no nosso sistema e consultam. Cada vez que entra um pedido de financiamento, o banco consulta o MapBiomas e vê se tem desmatamento ou não, se tiver, eles param o processo”.
Sobre Tasso Azevedo
Engenheiro florestal, consultor e empreendedor social em sustentabilidade, floresta e clima. Coordenador do Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG). Fundador do Mapbiomas, um dos finalistas do Prêmio Empreendedor Social 2022, na categoria Inovação em Meio Ambiente. Foi premiado como um dos 16 Inovadores Sociais do Ano em cerimônia no Fórum Econômico Mundial em Davos. Definido por Marina Silva, ministra do Meio Ambiente como: “ especialista em colocar coisas difíceis de pé. Sabe ser um bom maestro”.