"A gente não morre de câncer aqui, a gente morre de dor", diz autora do best-seller "A morte é um dia que vale a pena viver", no Provoca
Foto Gelse Montesso |
Na próxima terça-feira (25/4), Marcelo Tas conversa no Provoca com a médica geriatra especialista em cuidados paliativos Ana Claudia Quintana Arantes. No bate-papo, eles falam sobre a morte, o medo dela e como usá-la como conselheira, a importância de aliviar a dor e o sofrimento, e muito mais. Vai ao ar na TV Cultura, às 22h.
Ana Claudia começa a edição explicando que em nosso país somente 0,3% dos brasileiros que precisam de cuidados paliativos têm acesso. “A gente não morre de câncer aqui, a gente morre de dor (...) porque não existe conhecimento hábil, competente, suficiente para os médicos conseguirem prover o alívio do sofrimento”, comenta.
A especialista conta em outro momento do programa que conseguiu ser ouvida no Conselho Nacional da Educação para falar sobre a importância dos cuidados paliativos no ensino da graduação de Medicina. “O que eu estava pedindo era uma recomendação do Ministério para que aspectos que já estavam descritos nas diretrizes de ensino, que dão suporte aos cuidados paliativos, fossem ensinados de uma maneira formal por paliativistas e o conselho me ouviu (...) é obrigatório que toda faculdade de Medicina no nosso país ensine cuidados paliativos para os estudantes na graduação”.
A geriatra explica que escolheu se formar em cuidados paliativos porque o sofrimento é deixado de lado pelos profissionais de saúde. “Na hora que o paciente tem uma condição que ameaça a continuidade da vida, a medicina é desafiada a trazer cura e, muitas vezes, acontece de não ter a cura. Aí esse paciente fica transbordando de sofrimento e dizem que não tem nada para fazer. E eu descobri que tem muita coisa para fazer (...) a partir do momento que você reconhece que tem sofrimento, você vai prover o cuidado para aliviá-lo”.
Por fim, a médica comenta sobre o tempo de vida. “Você recebe todo dia 24 horas na sua conta e você tem que gastar (...) e você gasta quase sem nenhuma consciência (...)”. E como adquirir consciência do tempo?, pergunta Tas. “Eu penso que vale ter a morte como uma boa conselheira (...) a minha morte é uma grande amiga, porque ela pode sentar comigo em um momento da minha insônia e perguntar: vale mesmo a pena passar a noite acordada por causa desse tipo de problema? Sua vida depende disso? (...) A morte te ajuda a colocar um pouco de discernimento do que é prioridade, o que é importante naquele dia”, reforça.
Ana Claudia Quintana Arantes é autora do best-seller A morte é um dia que vale a pena viver, além de outros livros como Pra vida toda valer a pena viver.