Para quem não conseguiu assistir à série “Lei da Selva -- A História do Jogo do Bicho”, ou gostaria de revê-la, o Canal Brasil preparou uma maratona para este sábado, 28, a partir de 19h30. Na programação especial, serão exibidos -- em sequência -- os quatro episódios da atração, que estreou em abril na grade do canal e rapidamente despertou o interesse de telespectadores por todo o país.
Dirigido por Pedro Asbeg, o projeto é uma série original do Canal Brasil e mostra como nasceu o jogo do bicho no Rio de Janeiro, além de traçar um panorama sobre como essa atividade ilegal se transformou em um imenso império do crime, movimentando milhões e deixando um espesso rastro de sangue e corrupção que desemboca na atual milícia carioca. Com coprodução da Kromaki e do próprio canal, a série “Lei da Selva -- A História do Jogo do Bicho” tem roteiro de Arthur Muhlenberg e Tiago Peregrino, direção de fotografia de Pedro Von Krüger, produção executiva de Anna Júlia Werneck e Roberta Oliveira e produção de Rodrigo Letier. A narração fica por conta do ator Marcelo Adnet e costura com fatos históricos, depoimentos de jornalista, historiadores, urbanistas, sociólogos, policiais, carnavalescos e promotores de justiça. Entre os entrevistados, estão nomes como Tainá de Paula, Marcelo Freixo, Milton Cunha, Luiz Antônio Simas, Bruno Paes Manso, Octavio Guedes, Chico Otávio, Antônio Carlos Biscaia, Aydano André Motta e Juliana Dal Piva.
No primeiro episódio, o foco está em mostrar como o jogo do bicho surgiu, no final do século XIX, em Vila Isabel, e como rapidamente se espalhou pela cidade e caiu na ilegalidade. Fala também sobre a entrada de grandes contraventores na trama, como Castor de Andrade e Anísio Abraão David, e a ligação deles com a máfia italiana e com a corrupção policial. Trata do início das disputas territoriais entre os bicheiros na década de 60, o que coincidiu com o aumento dos assassinatos no Rio de Janeiro, e está associado ao surgimento de grupos de extermínio como o Esquadrão da Morte. Mostra ainda a relação do bicho com o poder constituído durante a ditadura militar, que o transformou em uma verdadeira empresa criminal na década de 70.
No segundo, intitulado “O Bicho É Pop”, a série mostra como as escolas de samba em ascensão na década de 80 se articulavam com o jogo do bicho, o que levou à criação da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) e à construção do sambódromo. Fala também sobre como foi necessário refazer as conexões políticas durante a redemocratização e como a eleição de Leonel Brizola foi conveniente aos bicheiros. O episódio mostra a ligação de Castor de Andrade com o Bangu Futebol Clube, o que fez com que o time fizesse uma excelente campanha no campeonato estadual de 1985. O envolvimento do jogo do bicho com o carnaval, o futebol e a política carioca fez com que, na década de 80, os grandes bicheiros ganhassem a simpatia da população e perdessem a aura de bandidos e, com isso, figurassem constantemente na mídia entre os poderosos da cidade.
“Os anos 90 começaram com os bicheiros por cima da carne seca: tirando onda na TV, mandando no Sambódromo e com a certeza da impunidade. O lance é que os Capa Preta estavam de olho nesse esculacho. A maré começou a virar e a cúpula passou a ser investigada”. Com essa informação, o narrador abre o terceiro episódio que, como ele anuncia, trata de como as autoridades do Rio de Janeiro investigaram e prenderam os 14 maiores bicheiros da cidade, incluindo Castor de Andrade. O episódio mostra ainda que, em meados da década de 90, surgiu no Rio de Janeiro uma nova geração de bicheiros, responsável, principalmente, pela febre das máquinas de caça-níquel nos bares da cidade. A série conta também que, nesta época, há um crescimento populacional na região de Rio das Pedras que, por ser habitada por muitos policiais, acabou se tornando a área um laboratório para um novo modelo de negócio que estava surgindo: as milícias. “A milícia herda do jogo do bicho essa lógica do domínio de territórios, da divisão da cidade em territórios para a exploração de atividades ilícitas, que é típico das máfias”, explica o jornalista Octavio Guedes.
A morte de Castor de Andrade dá início a uma partilha de bens e negócios que gerou um banho de sangue no Rio de Janeiro, no final da década de 90. É mostrando esse cenário que começa o quarto e último episódio, que tem o título de “Pátria Armada”. O episódio mostra ainda o crescimento das milícias, durante a primeira década dos anos 2000, e seu projeto de poder que envolvia o poder político e o judiciário e ameaçava a democracia. Fala também que, neste cenário, surge o que ficou conhecido como Escritório do Crime (grupo de matadores, que tinha Adriano da Nóbrega como um dos principais membros, e que que atua por contratação, independentemente das disputas territoriais que aconteciam na cidade). A série mostra ainda a prisão dos ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio Vieira de Queiroz, ambos ligados ao Escritório do Crime, às milícias e ao jogo do bicho, e também acusados de envolvimento com o assassinato da vereadora Marielle Franco.
MARATONA LEI DA SELVA -- A HISTÓRIA DO JOGO DO BICHO (2022) (4X45’)
SÉRIE ORIGINAL CANAL BRASIL
Direção: Pedro Asbeg
Locução: Marcelo Adnet
Data: sábado, dia 28/05
Horário: 19h30 (os quatro episódios da série serão exibidos em sequência a partir deste horário)
SINOPSE: “Lei da Selva” é uma série documental de 4 episódios que mostra como a loteria criada para financiar um jardim zoológico no Rio foi incorporada pela cultura popular e, nas mãos de contraventores organizados nos moldes da máfia italiana, se transformou num imenso império do crime, movimentando milhões e deixando um espesso rastro de sangue e corrupção que desemboca na milícia carioca.