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Em quatro episódios, produção dirigida por Pedro Asberg retrata a realidade por trás do jogo do bicho, tão tradicional no Rio de Janeiro, e repleto de polêmicas, crimes e corrupções
“Pois é... o bicho tá pegando. É polícia, milícia, corrupção e muito sangue derramado neste Brasil. Difícil saber como a gente vai sair dessa encrenca, né? Talvez, um caminho seja entender como a gente chegou até aqui. Não, peraí, não precisa voltar até 1500 não. Se a gente começar ali, no Rio de Janeiro do final do século XIX, já dá pra pegar esse bonde andando. Então, se liga no contexto, amizade. Guerra de Canudos, urbanização começando a degringolar no Rio, samba, macumba, futebol... é muita coisa, né? Mas faltava algo importante: botar o povo pra sonhar com a chance de mudar de vida com apenas um bilhete. Foi mais ou menos assim que nasceu o Jogo do Bicho. Tá pronto pra entender um pouco mais sobre a lei dessa selva? Cola comigo!”
É assim que o narrador, Marcelo Adnet, convida o espectador a assistir “Lei da Selva -- A História do Jogo do Bicho”, logo no início do primeiro episódio. Dirigida por Pedro Asbeg, a série documental de quatro episódios que mostra como a loteria criada para financiar um jardim zoológico no Rio foi incorporada pela cultura popular e, nas mãos de contraventores organizados nos moldes da máfia italiana, se transformou num imenso império do crime, movimentando milhões e deixando um espesso rastro de sangue e corrupção que desemboca na atual milícia carioca. A produção estreia dia 29 de abril, às 22h30, no Canal Brasil e nos serviços de streaming Canais Globo e Globoplay + Canais ao Vivo. Coprodução da Kromaki e do Canal Brasil, a atração tem roteiro de Arthur Muhlenberg e Tiago Peregrino, direção de fotografia de Pedro Von Krüger, produção executiva de Anna Júlia Werneck e Roberta Oliveira e produção de Rodrigo Letier.
A narração costura com fatos históricos, depoimentos de jornalista, historiadores, urbanistas, sociólogos, policiais, carnavalescos, promotores de justiça. Entre os entrevistados, estão nomes como Tainá de Paula, Marcelo Freixo, Milton Cunha, Luiz Antônio Simas, Bruno Paes Manso, Octavio Guedes, Chico Otávio, Antônio Carlos Biscaia, Aydano André Motta e Juliana Dal Piva.
“Entender o jogo do bicho é necessário para qualquer um que queira entender como chegamos até aqui neste emaranhado de violência com o qual convivemos no Rio. O bicho, que já foi inocente, há tempos está ligado a assassinatos, extorsão, lavagem de dinheiro e diretamente ligado ao crescimento da milícia. Pode-se dizer, inclusive, que bicho e milícia são sócios”, conta o diretor Pedro Asbeg.
No primeiro episódio, a série mostra como o Jogo do Bicho surgiu, no final do século XIX, em Vila Isabel, e como rapidamente se espalhou pela cidade e caiu na ilegalidade. Fala também sobre a entrada de grandes contraventores na trama, como Castor de Andrade e Anísio Abraão David, e a ligação deles com a máfia italiana e com a corrupção policial. Trata do início das disputas territoriais entre os bicheiros na década de 60, o que coincidiu com o aumento dos assassinatos no Rio de Janeiro, e está associado ao surgimento de grupos de extermínio como o Esquadrão da Morte. Mostra ainda a relação do Bicho com o poder constituído durante a Ditadura Militar, que o transformou em uma verdadeira empresa criminal na década de 70.
No segundo episódio, intitulado “O Bicho É Pop”, a série mostra como as escolas de samba em ascensão na década de 80 se articulavam com o Jogo do Bicho, o que levou à criação da Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) e à construção do sambódromo. Fala também sobre como foi necessário refazer as conexões políticas durante a redemocratização e como a eleição de Leonel Brizola foi conveniente aos bicheiros. O episódio mostra a ligação de Castor de Andrade com o Bangu Futebol Clube, o que fez com que o time fizesse uma excelente campanha no campeonato estadual de 1985. O envolvimento do Jogo do Bicho com o Carnaval, o Futebol e a política carioca fez com que, na década de 80, os grandes bicheiros ganhassem a simpatia da população e perdessem a aura de bandidos e, com isso, figurassem constantemente na mídia entre os poderosos da cidade.
“Os anos 90 começaram com os bicheiros por cima da carne seca: tirando onda na TV, mandando no Sambódromo e com a certeza da impunidade. O lance é que os Capa Preta estavam de olho nesse esculacho. A maré começou a virar e a cúpula passou a ser investigada”. Com essa informação, o narrador abre o terceiro episódio que, como ele anuncia, trata de como as autoridades do Rio de Janeiro investigaram e prenderam os 14 maiores bicheiros da cidade, incluindo Castor de Andrade. O episódio mostra ainda que, em meados da década de 90, surgiu no Rio de Janeiro uma nova geração de bicheiros, responsável, principalmente, pela febre das máquinas de caça-níquel nos bares da cidade. A série conta também que, nesta época, há um crescimento populacional na região de Rio das Pedras que, por ser habitada por muitos policiais, acabou se tornando a área um laboratório para um novo modelo de negócio que estava surgindo: as milícias.
“A milícia herda do Jogo do Bicho essa lógica do domínio de territórios, da divisão da cidade em territórios para a exploração de atividades ilícitas, que é típico das máfias”, explica o jornalista Octavio Guedes.
A morte de Castor de Andrade dá início a uma partilha de bens e negócios que gerou um banho de sangue no Rio de Janeiro, no final da década de 90. É mostrando esse cenário que começa o quarto e último episódio, que tem o título de “Pátria Armada”. O episódio mostra ainda o crescimento das milícias, durante a primeira década dos anos 2000, e seu projeto de poder que envolvia o poder político e o judiciário e ameaçava a democracia. Fala também que, neste cenário, surge o que ficou conhecido como Escritório do Crime -- grupo de matadores, que tem Adriano da Nóbrega como um dos principais membros, que atua por contratação, independentemente das disputas territoriais que aconteciam na cidade. A série mostra ainda a prisão dos ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio Vieira de Queiroz, ambos ligados ao Escritório do Crime, às milícias e ao Jogo do Bicho, pelo assassinado da vereadora Marielle Franco.
PEDRO ASBEG
Formado em Cinema pela Universidade de Westminster, Pedro Asbeg é um premiado documentarista em atividade desde 1997. Dirigiu quatro documentários de longa-metragem: “Mentiras Sinceras”, que estreou em 2011, mescla realidade e ficção a partir do registro da peça “Mente Mentira”, escrita por Sam Sheppard.
“Democracia em preto e branco”, que recebeu Menção Honrosa do Júri no festival É Tudo Verdade de 2014, destrincha a história da Democracia Corintiana enquanto trata do nascimento do rock brasileiro e do fim da ditadura militar. O filme circulou por mais de 30 países e ganhou prêmios no Brasil e no exterior. “Geraldinos”, de 2015, codirigido com Renato Martins, recebeu o prêmio do público do Festival de Tiradentes e analisa as mudanças promovidas no Maracanã desde o fim da mítica Geral até sua deformação completa para as obras da Copa de 2014. "América Armada", codirigido com Alice Lanari, foi filmado no Brasil, na Colômbia e no México e mostra como 3 ativistas ameaçados de morte resistem à violência na América Latina. Recentemente dirigiu, também para o Canal Brasil, o especial “Larica Total, 10 Anos Depois”. Como editor, Pedro trabalhou nos filmes “CIdadão Boilesen”, “Vou rifar meu coração” e “Relatos do Front”, entre outros, além de séries como “Meu Amigo Bussunda” e “O negro no futebol brasileiro”, tendo colaborado com emissoras e serviços de streaming como Globoplay, HBO, Al Jazeera, ESPN e TNT.
KROMAKI
Criada em 2018 pelo produtor Rodrigo Letier, que foi sócio da TvZERO durante 16 anos, a KROMAKI é uma produtora carioca de filmes e séries, de ficção ou documentais, para cinema e plataformas de streaming. Seu primeiro lançamento foi o documentário “O Mês Que Não Terminou”, de Francisco Bosco e Raul Mourão, em parceria com o Canal Curta!. Depois, veio a série “Meu Amigo Bussunda”, dirigida por Claudio Manoel, Micael Langer e Julia Besserman, em parceria com o Globoplay. Em janeiro de 2022, chegou aos cinemas a comédia “Juntos E Enrolados”, com Rafael Portugal e Cacau Protásio. A próxima estreia da produtora é a série documental "Lei da Selva", sobre o jogo do bicho, para o Canal Brasil. Entre outras obras destinadas a cinema, TV e plataformas de streaming, a Kromaki produz no momento as séries documentais "Romário, O Cara" (HBO) e "Nelson Vezes Quatro" (Canal Brasil), além do longa documental "O Mundo de Sofia" (GNT) e do longa de terror "Herança", em coprodução com a Bubbles Project. Na TvZERO, Rodrigo Letier produziu filmes como "Bruna Surfistinha", “Gabriel e a Montanha” e “Benzinho”, além de séries como “Eu Sou Assim”, indicada ao Emmy, e “#mechamadebruna”.
CANAL BRASIL
Com cerca de 95% de sua grade dedicada ao cinema brasileiro, o Canal Brasil tem investido cada vez mais também em séries originais. Além de acompanhar as tendências de consumo de entretenimento, o canal tem especial interesse em diferentes narrativas, estéticas, linguagens e formatos audiovisuais que representam a diversidade brasileira. Entre as estreias recentes
“Milton e o Clube da Esquina”, com produção da Gullane e direção de Vitor Mafra; “Confissões de Mulheres de 50”, último trabalho de Domingos Oliveira; “Noturnos”, com criação e direção-geral de Marco Dutra & Caetano Gotardo e ideia original de Renato Fagundes; “Perdido”, de Paulo Tiefenthaler e Ernesto Solis; “Ouro Velho, Mundo Novo”, de Claudio Assis e Lírio Ferreira; “Nós”, de David França Mendes e Rodrigo Ferrari; “Amor de 4+1”, de Marcelo Santiago; “Colônia”, de André Ristum; “Hit Parade” criada por André Barsinski e dirigida por Marcelo Caetano; e “Os Últimos Dias de Gilda”, de Gustavo Pizzi.
LEI DA SELVA (2022) (4X45’)
INÉDITO E EXCLUSIVO
SÉRIE ORIGINAL CANAL BRASIL
Direção: Pedro Asbeg
Locução: Marcelo Adnet
Estreia: sexta, dia 29/04, às 22h30
Horário: sexta, às 22h30.
Alternativos: sábado, às 14h; madrugada de sábado/domingo, às 2h; madrugada de quarta/quinta, às 4h; e segunda, às 0h30.
SINOPSE: “Lei da Selva” é uma série documental de 4 episódios que mostra como a loteria criada para financiar um jardim zoológico no Rio foi incorporada pela cultura popular e, nas mãos de contraventores organizados nos moldes da máfia italiana, se transformou num imenso império do crime, movimentando milhões e deixando um espesso rastro de sangue e corrupção que desemboca na milícia carioca.