Em “A República Invisível das Mulheres”, episódio inédito da série “Inconveniências Históricas”, dirigida por Belisário Franca e Pedro Nóbrega, que vem sendo exibida no Curta!, conhecemos um pouco da história do movimento sufragista no Brasil. Apesar de serem maioria da população, as mulheres apenas conseguiram ter assegurado seu direito ao voto em 1932. A historiadora Mary Del Priore lembra que as mudanças estavam ocorrendo rapidamente no país com a chegada de trens, carros, telegrafia e telefonia. Nos costumes, as mulheres cortavam os cabelos, encurtavam as saias e entravam no mercado de trabalho de grandes cidades. Mas no campo político, encontravam resistência de homens em posição de autoridade para terem assegurado seu direito ao voto. “É uma delícia e chega a ser risível a leitura que a gente faz dos jornais da época dando razões para a mulher não ter acesso à vida política”, ressalta ela. Na Europa, teses médicas e tratados filosóficos apontavam a mulher como biologicamente destinada à maternidade, ao cuidado do lar e dos filhos. A historiadora Gabriela Trevisan conta que, para vários médicos brasileiros, as mulheres “eram propensas à histeria, às emoções, ligadas ao campo da natureza e, logo, jamais poderiam ocupar espaço na política, devendo ser governadas e controladas pelos homens”. Apesar de invisíveis no campo da política dominada pelos homens, nos bastidores as mulheres agiam para fortalecer sua luta em busca do direito ao voto. Algumas personagens tiveram papéis importantes, como a professora Leolinda Daltro, que fundou a Federação Republicana Feminina, e Bertha Lutz, jovem da classe alta que retorna ao Brasil após estudos na Europa e, impactada pelas discussões sobre o voto feminino no exterior, se torna defensora do direito para as brasileiras. Entre as mulheres negras, dois nomes importantes foram Tia Ciata, que promovia rodas de samba em sua casa, e Laudelina de Campos Melo, que fundou o primeiro sindicato das domésticas no Brasil. Com a virada do século, a presença de mulheres, dirigindo ou escrevendo para jornais e revistas, promoveu a circulação e fortalecimento das ideias feministas. Duas publicações importantes da época foram “A Mensageira”, de Presciliana Duarte de Almeida, e “A Família”, de Josephina Alvares de Azevedo. “Inconveniências Históricas” é uma produção da Giros, viabilizada pelo Curta! através do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) e, neste episódio, conta com a participação de especialistas como Sidney Aguilar, Mary Del Priore, Gabriela Trevisan e Ynaê Lopes dos Santos. A exibição é na Sexta da Sociedade, 22 de abril, às 23h30. |