Brasil é o segundo país em transplantes no mundo, mas poderia realizar mais cirurgias
O Brasil é o segundo país do mundo em número de transplantes, atrás apenas dos Estados Unidos. E 96% desses procedimentos são financiados pelo SUS, o Sistema Único de Saúde, desde os primeiros exames até os medicamentos pós-cirurgia. Ainda assim, o país sofre com a falta de um elemento vital para o transplante: o doador de órgãos. É sobre esse tema que “CNN Sinais Vitais”, com o Dr. Roberto Kalil, fala neste domingo, 01 de maio (19h30).
“Temos muitos centros transplantadores que poderiam ser mais utilizados do que são, por falta de doação'', explica o médico Paulo Pêgo Fernandes, chefe da Divisão de Cirurgia Torácica do InCor. “Uma doação pode beneficiar muita gente. Porque você pode doar córneas, pode doar rins, então são duas córneas, dois rins, o fígado, os dois pulmões, o coração além disso, coisas menos ditas, como o pâncreas pode ser doado, intestino, pele para grandes queimados, ossos para grandes traumatizados”, completa o médico, destacando que um doador, apenas, pode salvar até dez vidas.
De acordo com uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), a negativa familiar é o principal motivo para que um órgão não seja doado. O enfermeiro Edvaldo Legal de Moraes trabalha há 25 anos na OPO (Organização de Procura de Órgãos) do Hospital das Clínicas de São Paulo e uma de suas funções é conversar com os familiares, explicar o que é a morte encefálica e a importância da doação. “O meu papel não é convencer, mas possibilitar a tomada de decisão da família. A ideia de ser treinado nesse cenário é para a gente conduzir a família para algo que ela se sinta confortável e confiante dentro de um cenário tenso que é receber a notícia da morte de um ente querido”, explica Edvaldo.
“Eu acho que é a coisa mais difícil do mundo conversar sobre isso, mas as pessoas têm que conversar, porque todo mundo está sujeito”, diz o neurologista Luiz Melges, chefe do serviço de Neurologia da Faculdade de Medicina de Marília. E ele passou por essa situação quando perdeu um filho num acidente de carro e autorizou a doação dos órgãos. “O Luiz Fernando tinha esse lado de ser muito próximo das pessoas, um lado diferente dele, espiritual, de sempre dar, de não se apegar às coisas materiais. Então, isso foi mais do que suficiente para a gente ter tomado a decisão”, afirma.
O episódio “Vidas que Seguem” também aborda o transplante inter-vivos, quando pessoas vivas também são doadoras, desde que exista a possibilidade de terem uma vida com saúde normal após o transplante. Elas podem doar um dos rins ou pulmões, ou ainda parte do fígado, do pâncreas e da medula óssea. Em Socorro, no interior de São Paulo, João Batista Preto de Godoy, que teve câncer, precisa de um transplante de fígado de uma pessoa viva. “Eu não tenho alternativa. Alguém vai ter que entrar numa sala de cirurgia, fazer um corte, tirar uma parte do corpo e doar para mim”, diz João. O “CNN Sinais Vitais” conta o desfecho dessa história.
O médico Luiz Augusto Carneiro D'Albuquerque, diretor da Divisão de Transplantes de Fígado e Órgãos do Aparelho Digestivo dos Hospital das Clínicas, afirma que doar é renascer. “Quando eu dou aula, eu falo que não tem nada mais gratificante do que você colocar um fígado que está sem sangue, sem circulação e abrir as pinças e ver o renascimento do fígado, a recirculação do sangue”, conta emocionado.
*O “CNN Sinais Vitais”, com o Dr. Roberto Kalil, vai ao ar aos domingos às 19h30, pela CNN Brasil.